domingo, 18 de outubro de 2015

Brasiliana Triste pra uma manhã de chuva

Hoje aqui na terra dos jacarés
manheceu chuvência por Tudo.
Com todos os olhos d'água pra muito Adultos,
transborderentes pelas campinas de Mim____

É que chove lá fora e aqui. Cá dentro
dess'alma velha num tem janela
nem dique preles açudes
dessa Tristeza que me Torqueja que nem
baile funk de potro chucro pasto fora.

Chove cá Dentro, e lá no meio das árvores da praça.
Mas elas não carecem de minino holandês
que aponha o dedo mindinho na rachurência Rançosa
a craquejar caratonha
pra cidadela Indefesa.

A cidadela sou eu, cabró moreno nascido
de cu pra todos os lados MENOS  pra lua
lua lua lua lua branca por quem és tem dó

de mim minino Sofrente, de mim erê Desconchário,
de mim zabumba sem pele, de mim trapézio
sem corda. Pois hoje o dia manheceu
chuvência, mas cá  -  janelas d'alma pra Dentro
é quase Sempre chuvarão Disgramado.

sexta-feira, 16 de outubro de 2015

Noite no Monte Calvo(Sonho de um Sabá de Aleluia. À memória de Modest Mussorgsky. Para os queridos Guilherme Gonçalves e Luis Turiba. Para Gabriela, Musíssima)

"Aos quinze anos eu nasci/em Gotham City"(Jards Macalé/Capinam)

____AAAAAAAaaaaaaaaaaarrrrrrrrrhhhhhhhh!!!!!!!.....

                                                                 (PAUSA)

En
tonces
tonces
tonces tum
tum tum TUM    tum tum
tum tum TUM TUM TUM.
TUM:  

bródio maledizento
dos zabelês do Cramulha______

aos quinze anos me Vim
pras gotham citys Putrééééérias
mais que Tranchantes "na história deste país",

onde miribas com gostorô de Sanguêra
é tudo o que os laranjais suicidas
ofertam no altar dela pátria, madrasta
pra o povoréu sem cueca
e sem conta nos roncós da Suíça.

Eu sou trocentos sou trocentoecinquenta
de pedros-bós enxós-Cabraques morrentes
não mais a mão minina
do curumim feioso que Fui_____

antes do pai tão curió de francisco
que não contente em masgaiar violões
pra fazer pau de Rebite
inda mascou com farinha
as asas que um dia pediriam
meus olhos em casamento:

transpimentêra do capeta em Fúria
foi meu xibíu ancorescente, roncôlho
naturiMorto aos quinze anos
nas gotham citys do país Madrasto,
surfista em samba e Sarrafo.

Dispois dos vinte é que a pauleira gemeu
sem pai sem mé nem tarrafa
que urdisse uns peixes de xelins-Muquécas
onde mulatas biônicas
pudessem transformar água em Vinho
e faixas de Gaza em Praças XI
de festões Murílios.

Mas
pra malderêêêêu há curimbões-de-Feitiço
nelas trocentas peles que visto,
e exus-Morcegos à solta no pátio
junto de anitas e kellys e catras
regendo um rancharéu de Capetas
plantando grilos-tridentes
nas minhas futuras caveiras
já transesgalgas morrentes como um trator é Vermelho
nos quintos-bródios do Judas______

são zabelês dos cramulhões Catingudos
transpimentados nos quarteirões
sem janelências nem portas
nem particípios vestindo ipês nos cabelos
dispois que moça Camélia
caiu dos galhos-Infância,
e dois suspiros depois foi morrer
às cinco horas na avenida central.


domingo, 11 de outubro de 2015

Sermão de São Mármaro sobre as Antigas Manhãs

Eis que nos encontramos, onde a vida nos trouxe pela mão
entre espirais de cem braços
na estrada que brotou dos seios de uma deusa.
Você no planalto que viu nascer
uma nova Atlântida pelo esboço de Oscar,
eu nas areias do mar, erê-Malungo que viu ao longe
as caravelas voltando aos portos de Lisboa.

Mas temos almas Velhíssimas
de termos visto a Virgem trocando as fraldas
das primeiras estrelas. Pianos filhotes corcoveavam
pelas campinas, e nos ombros das árvores a voz dos pássaros
enchia os ares de oboezinhos ligeiros
cujas notas brincavam como sacis
nas linhas suplementares da pauta.

Os Três Primeiros te moldaram o Rosto, pondo garoas de Universo
nos teus olhos de veludo escuro.

E te falaram: "Terás cem vozes de sabiás cantadores
que façam mulheres e homens
vogarem no rio dos Sonhos. E mais______

antes do fim do Horizonte, antes que se gastem os céus
tu darás de comer às roseiras,
de beber às estátuas,
e de sonhar
aos poetas."

sexta-feira, 9 de outubro de 2015

Poema da moça dormente(Pequena suíte para ocarina e fagote)

Sentado à beira do mundo
contemplo as casas  em fuga.
A tarde cai no Planalto, pássaros  escondem o Rubro
no fim do horizonte,
o braço da primeira estrela
acende a próxima  vigília.

Escuto  o grito do oceano,
chacoalha  seus feixes de mortos,
move  gáveas  Extintas.

Sombras  vestem  pirâmides,
guardam  a esfinge  sem  Rosto,
também  marílias, alferes_______
sussurros de Vila Rica
nos olhos do poeta sentado
à beira do mundo

mais longe  árvores se abraçam
num breu por Tudo,
tambores calam, deuses  desmontam
de seus homens.

Entre cartilhas  e  girassóis e pianos
cercada de anjos e livros na cidade-Planalto
a menina corre as cortinas
por seus olhos de veludo escuro
e adormece.

terça-feira, 6 de outubro de 2015

As Naus


 “O que não tenho e desejo/é que melhor me enriquece."(Manuel Bandeira)


O que não tenho e desejo
me faz  Humano. Assim  querência
desque foi Côco o guariba*,
descendo os degraus das árvores
pra ser Pai Grande em terras do sem-Fim.

O que não tenho e desejo
me fez cabinda e Jaci: o Mar
onde os abismos e a surpresa dos fins que não aportam Nunca,
tesouros de sangue e Corte.

O que desejo, não tendo à volta do umbigo
levou meus pés das savanas
para os terreiros de senhor e escravo, 
onde mortalha era o motor das giras
em muitas noites Escuras, as sobras
sendo vencidas no tapa
entre meu filho e os abutres

Houveram tardes manhãs
no sexto dia prolongado ao extremo
querubins cantando o Depois,
história
num fado lógico:

O que não tinha e Queria
levou meus pés da porta das cavernas
à  direção das Estrelas, apesar dos quebrantos,
do candomblé das sereias
desses abismos, fronteiras
de mais lugares sem Fim.

(*)Guariba: espécie de macaco.