terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Nevoeiros(Para Flavia Muniz, com o pensamento em sua música "O Fado")

               Sobre as colunas do  Mar
               um sopro antigo  a relembrar as naus
                voltando aos portos de  Lisboa,
               quando um país era Império
               e  Rosto  com que fitava
               o  dorso  Imenso  do oceano ao longe...

               Depois? Depois do  Sono dos Três
               foram  serpentes  de bronze______
               foram leões  a constringir  nos dentes
               o  horizonte  outrora  aberto às  Alturas,
               foi o Encoberto  que se fez em Bruma
              e  que  lançando  na  Mourisma  a má  semente
              fez de todo um povo  Nevoeiro,
              entre  nuvens  escondendo
             todo  um  Futuro....
       

segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Elegia mindinha

                   Evém  mundéu  Curimã
                   que  a mão lambaia
                   Bahia:
                   os sete erês cardeais
                   mascando as horas  Parecis
                   e os meus serões  Desenredo...  jussaras  Pós.
                   Nazarés. Mandingas
                   malvas malsãs
                   xerém no arroto do Instante: céu de quases
                   me  Existe
                   antifonária  araci,
                   meus  desenredos-Homem.

Dilúvio

                          Perdi  Maria e a esperança
                          num acidente de ônibus.
                          Desbruzundós em quebranto
                          antiliras no céu:
                          todas as liras  Pedra,
                          gravatá  dos infernos.

                          Segui, bozó Catifundo,
                          segui vestido  de Nada,
                          pranto  a salas  Vazias. Noite  Escassa,
                          nenhum carro  passará
                          sobre meu corpo, erê-Pandora.
                          Encosto  todo num poste
                          meu  ombro  Nenhum:

                          Cisqueira  chuvisca  os olhos
                          parangolê  mangará, mão do meu jogo
                          da  vida____________
                          caindo preto, Dilúvio.

domingo, 26 de dezembro de 2010

Vaticinária

                     A torre  odara do Templo
                     era  alabê de   Narciso
                     assim  cunhã  ziguizira,
                     um  mar  inteiro  em  tangência
                     alhambra  após, de Elixir.

                     Mundéus e tantras  depois
                     os  pireneus   no chuvisco
                     um risco   Ilê   mês de maio_______
                    
                    

                    E  de entrevés, Alimária:
                    não vale discutir  os homens
                    há muito  estátuas em pedra,
                    após as torres  de petróleo.

Antífona Breve

                                           I

                       Num livro de Dona Benta:
                       as juras  Inconfidentes
                       e os becos de Goiás Velho
                       em cambulhada  com as roseiras do asfalto
                       e os bondes do  carlos-Homem.
                       Monção________
                       chuvada  assim de pancada
                       e  a marcha  do  avô  Tropeiro
                       suando nas alimárias,
                       vencendo a serra do mar.

                                           II

                      Hoje  meus sete espíritos
                      descansam no chão das  Nuvens,
                      andor  de pássaro e vento,
                      e dos poetas, do Hóspede.

sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Boas Festas (Para Domingos Guimaraens, natal de 2010))

          No engulho torto desses quejandos, lajedos,
          mandacarus cardinálios que a vida às vezes Impõe,
          com braços os mais  Cabindas
          e olho torto  do  cão________

         No entorno dessa meiúca
         dessa  anguzada  carôça
         desse  groló   mal-fadado
         eu paro agora  e disparo
         meus votos  pra  Vassuncê:

        que  seja  Odara  a  mandinga
        sempre  vívara  a força,
        mais ternárias as valsas,
        vasta  a mão das  Fortunas,
        mais   flautins  nos telhados
        e  Erenguês  de  estrutura.

       E  o  catingô  dos quebrantos
       urutaus  serpentários,
       leguelhés  estrumentos,
       cabreúvas  mazingas
      (e outros males  retintos):

    ______todos  àquela parte,
      ou  no escambau  lá dos quintos.

      Isso o que espero e quero
      pra roda de Vassuncê confrade,
      e, claro,
      Amigo.
   

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Visões de São Mármaro, nº 0

             Por onde livros não falam
             das guilhotinas da  Noite
             andam meus Gês  parecis____
             cruz nos olhos (embora)
             sobre  jardins de pianos.

             Passam cavalos de bronze.
             Levam nos dorsos
             as  virgens  brancas  de europa,
             por  sobre o busto   de Altair.

            Vão nuvens  tintas, vermelhas
            lançando cântaros sobre as estátuas de pedra,
            caravanas  de Hagar  descem dos raios
            sobre oceanos  imensos,
            terraços de azul  e de Sal.

           Espero  um sopro do Hóspede
           antes do último  Pássaro: depois  então
           meus braços  cairão do  Tempo.

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Balangô

       Serafins choraram lágrimas de barro
       pelo retrato do Velho
      suspenso entre   dois  acordes.
      O  sorriso de  dentes  requentes
     esconde  cinco décadas  charutas.

     Após  foi coisa:
     Iná  querendo a  multiplicação dos seres,
     corpos  íncubos___

     Banzantinália
     na  madrugada  salobra,
    quase  Dezembro, os urubus:  tardes inteiras
    entre os girassóis.

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Cantares

              Ouvir  a  sinfonia  secreta
              onde os suspiros da atmosfera
              desceram  à face  da Terra:

              memória  apara seu cântaro
              pleno  de estrelas  e deuses,
              demônios dormem na sombra.

             O  mesmo Verbo da noite
             adorna o sono dos  filhos,
             envolve  o rosto do  Hóspede
             enquanto  à mesa da ceia ____

            No  mundo   os  Homens   Renascem,
            abraçam os peixes e as  nuvens,
            partilham   o pão, comemoram:

           De novo os primeiros Três
           pairando  às face  das Águas.

Caudalócio

    E sigo: tango e Tabefe
    por estes céus de metano.
    Vida até suportável,
    não fossem tantos  automóveis
   berrando no chá das cinco,
   enquanto homens se matam
  por vinte gramas de pó.

  Ainda em beiras de  Mim _____ 
  mulheres órfãs
  tecendo redes na praia:
  
  jangadas  indo pra longe,
  mais tarde  voltando  Sós.

  Vento castiga  os óculos:

depois então vem dezembro
e o resto  vai para  o  Inferno.

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Partida

      Quizomba Má na estação Leopoldina:
      de cambulhada vão-se embora meus braços,
      junto dos ombros do poeta
      que segue bêbado no bonde,
      indo  pras Picas
      e  pra canto  Nenhum.

      Chego pra tarde Seco:
      sem fumo, terço, araucárias.
      Cantiga sem beira agora.


     Morte virá depois,
     sacramentar a partida.
     Sem esculturas  nem flautas.

terça-feira, 5 de outubro de 2010

Outonos

       O coração numeroso anda em Silêncio.
       Procuro um rosto_____
       a luz que Oscila
       anda sem olhos a cidade inteira.
       E se acabaram os homens,
       já não cabe discutir as flores.

      Procuro   um rosto_____
      e dos espelhos  vejo terraços
      sobre oceanos, porém desertos_____
     a tempestade avança e das entranhas
     são galeões digeridos
     o que   Resta_____

    E não sou mais
    nem   Isto: visto os Outonos,
    desenredos  me   Existem.

Estudo

        Noite. Serão talvez onze horas,
        na janela do quarto
        imagem Curta nos olhos,
        nenhum Saltério nas retinas cansadas.

       Ninguém  falou que era a guerra,
       e que os jardins precisavam de água,
       descantarência Agressiva.

       Céu  de bronze por cima
       andando na cidade Inexplicável,
       os homens  Náufragos
       de  mais-Valia____

     são  barris de petróleo,
     ombro  Nenhum.

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Estudo em forma de poema

               O rito secreto da chave.
               A palavra "Encontro" dilacera os suicidas,
               a cidade é inexplicável e há muito
               se acabaram os homens,
               transfeitos em barras de aço
               e barris de petróleo.

              Um último anjo apaga a lâmpada do Encanto,
              fecha a porta dos sentidos,
              em silêncio se esvai num mundo sem fé,
              deixando nos  edifícios
              gente ocupada em nascimento e morte.

terça-feira, 24 de agosto de 2010

Tarde

Tarde andando no céu.
Semeio todo um poema
na areia quente do deserto,
águas brotam da penha.

Disseco um demônio todo
no espaço-Cubo das horas.
Na mesma tábua de pedra
deitaram Isaque e o Hóspede,

mas era outra Repartição
que funcionava ali.

Andando no céu da tarde
relógios se derretendo conversam fartura e morte:
asas brotam dos pés
da noite agora mais Rente.

A Extensão dos Tempos

A tarde pousa aos meus pés
seus candelabros enormes.
Grande sede das Horas:
o casamento em Caná
procura o rosto do Hóspede.

Reli papiros, esfinges
fiz estender no varal
tecidos do meu Segredo:
Nijinski beijava as flores
dançando sobre o horizonte.

Enquanto houver Poesia
caminharei pela extensão dos tempos,
vestindo pânico e flor.

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Estudo, nº 1

Girassóis cavalgam minhas paredes de pedra.
Da "correnteza de raios
desce uivando o Minotauro".

Pássaros juntando conchas
bebem o orvalho dos pianos
sobre as campinas da Terra,
o filho pródigo retorna dos rios Invisíveis,
árvores desmaiam de emoção .

A luz dum fósforo elétrico
abraça o amigo, o inimigo:
um raio tinge de cinza
os braços negros da noite,
na luz difusa dos sótãos
espero as bodas do Hóspede.

Affonso Revisitado

Há tempos Affonso disse
que "o aumentativo de Fome
podia ser Revolução". Hoje no mundo todo
jornais garantem que ele, infelizmente
falava a Verdade.

Essa Verdade
que ainda insiste em transformar homens
em barro Estéril de escultura,
em números num balancete.

Enquanto isso no campo
grão-senhores colhem torres de petróleo
e nas cidades a próxima chacina amadurece,
debaixo dos nosso olhos
e das torres da Candelária.

Poema da muita Chuva

Faz frio fez chuva. De dia
era ver noite no céu,
e as nuvens rombudas gordas_____
Ronquêra assim
que nem orquestra de trombones.

No Cachambi ninguém sobrando
pra fora de um guarda-chuva,
magotes disputam no ombro
uns frenegués de centímetros
nas poucas marquises Sãs,
as leis da física
dando um trabalho danado.

E ninguém viu Biguá
mascote do bairro todo:
cachorro de rua nenhum
que eu visse de mais Estrela____
os donos são 32, fora os centavos
de troco.

Mas todo mundo aproveita
a deixa da chuva em baldes
caindo pela manhã na zona norte da cidade
pra mastigar pelos ônibus
os seus torrões de azedume:

os olhos compridos
pensando um gosto de sol,
saudade de um samba antigo
e mais orquídeas no bolso.

Guerra (A meu irmão André Mauro)

Pela campina deserta
passam cavalos de Chuva.
De onde vêm pra onde vão,
sei que eles: filhos do Homem.

Os olhos voltam do sono
o dia acalma as marés,
dança de Lua. Primeiros pássaros,
Oboés.

Ao longe Minas Gerais
de perto a Praça das Nações
e seus heróis que na Itália
romperam montes, exércitos:

inda chegaram na guerra
a tempo de oferecer uns mortos,
que gentileza meu Deus.

Poema Flóreo

As nuvens  -  pandas enormes
parecem saber meu Nome.
Agosto dança as marés
mas vi, Senhora, a lua negra .
No bosque antigo as estrelas
plantam mandiocas na Terra,
fertilizam mulheres.

Sobre a largura do tempo
esferas e ampulhetas dançam
 a semente do poeta futuro,
o filho pródigo despenteando horizontes
abraça o amigo, o inimigo.

Beber o orvalho dos pianos
antes que o demônio acorde
e a morte retorne do Afeganistão,
pegando as horas em pânico.

Valqueire

Por toda a praça do Valqueire
eu vejo o vulto do Hóspede chamando a Todos,
os homens passam, não Vêem. Olhos seguem sepultando mortos
enquanto cheques especiais
compram sapatos de bronze.

A noite desce por Tudo
lua negra é Senhora, vida que não vale o parto mas há Ordem
pra seguirmos nela.
Sem esperança de Escultura.

Serestinha

O mundo com seus necrológios
chega na estação: as nuvens, pandas enormes,
a vida Incomunicável.
Carros levam pessoas
pessoas levam seus óculos, bigodes, pernas
pra não sei Onde.

Aves nos olham de cima
todas com olhos de águia
parecem dizer que sim,
temos os dias contados
e a morte anda espreitando à porta:

na próxima compra do mês
na xícara de chá com bolo,
depois da missa das oito,
durante o coito mensal.

Mas sigo andando na praça,
árvores sabem meu Nome.
Olho um sinal, está verde, atravesso:
ainda é tempo de Figos.