sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Antífona do Arco, nº 1

Agora que Mara a Terra
Às mãos inexcapáveis do Trono Branco
o sol Posto, sobre Noé e sobre os cento e vinte anos
de púrpura em que os homens
Na corda Bamba, má  quadratura, Cartago:
que tugem fogos,  demônios verdes
sobre a largura da Terra:

__ Ai dos homens - diz a grande águia
Pelo meio do céu: que os anjos
Com trombetas de mármore e seu brado
O ferro mais puro e candente
Das terras da Vale do Rio Doce.

Interlúdio em forma de estudo, para Geraldo Viramundo

Então que aos olhos curtos o Pântano,
Afinal onde os séculos
Um pranto de Esquadro: Escombros
que as horas Passam, o rosto envolto
em pano ordinário
Aquilo faca sem corte,
Enxada sem Ventania.

Num chão de ferro impertinente Forte
tez-Itabira ao mundo. Por isso
As almas simples e fortes,
Até mesmo os mortos: de Ferro.

No espaço enorme entre dois pontos
Cabem Itabira, Três Pontas.
Também algum canto no meio
Onde a cidade de fim de mundo
Que o trem não Pára.

Espera dupla, adalgisa___  ninguém não vira
Que era melhor houvessem todos Lembrado:
necessário o fogo, mais cipós, cantis
Talvez sobressalente
um Espelho??

Jacarepaguá

Estrada dos Três Rios em meio
À chuva não posta nos matutinos.
Madrugada acordou faz pouco.
Janeiro doze, o bairro grande
Inda respira as festas enquanto
Aguança insiste num Cio
Que se derrama em chuva até encharcar
Os ossos do velho padre
Há muito apenas um morro no bairro,
O próprio nome
transformado em  Nuvem.

Ao longe um último transporte
a perturbar o Silêncio na estrada dos bandeirantes,
nada Inteiro
depois.

Muito depois  ainda
o vento na Freguesia
me lembra  uns sopros de flauta  em sol
E se promove em Som
Apenas porque às tantas
sussurro de bicicleta_____

À bordo o velho Ferges
E seus dois ouvidos,
Ele inteiro voltando
De mais um trampo em vigia:
a grajaú por  Caminho.

terça-feira, 13 de outubro de 2009

Soneto Inglês, n.º 2 ("Cristo e os doutores da lei " - Pintura em parede na gerência do hotel "Jardim Imperial " em Caxambu-MG, vista por mim em 1985, mês de janeiro)

           Festiva, a grande multidão  chega à  Cidade.
           Ali também  Jesus  e os pais  seguem cantando.
           A  páscoa do menino  era a primeira,
           a de seus pais um rito já firmado.

           O  chão  que andava em césares e dores
           ainda mais  tormento reservava:
           Os pais dão falta  do rapaz e voltam,
           entrando na cidade em desespero.

           Achá-lo é todo  um luto de três dias____
           E a  cena  mais Sublime  os esperava:
           mestres  escutando em grande  assombro
           a Voz da Eternidade ali, falando

           E que retorna  a Nazaré, inda era  Cedo____
           ainda  Longe  a  sombra  da  Caveira.

(Este soneto foi escrito na mesma semana de 10 de outubro de 2009, uns dois dias depois, na mesma cidade de Joinville-SC, bairro de Pirabeiraba. Nota acrescentada em 2013, 20 de junho)

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

A Canção de Inverno (Escrito em Joinville-SC, em 10/10/2009)

         Há muito que foi  dezembro
         na cidade de New York.
         Era o princípio  do inverno
         era o final do outono, não  Importa.
         Importa mesmo
         é que mataram  John  Lennon.

         Havia neblina e fuligem das fábricas
         nas vidraças das casas, mas certamente
         ainda  haverá  Depois.
         E que meus rogos  te Alcancem,
         das profundezas  Clamo.

        Multidões  me esbarram nas ruas
        mas cada um é uma  ilha  do dr. Moreau,
        seu  grão-Deserto onde demônios grandes
        dançam sob acordes de titânio, e ninguém 
        Vê, não há ninguém

       que dialogue  com o espelho
       que  reparta ao meio  os cabelos,
       ninguém ousando um café
       na hora do rush, ninguém
       que distraído  morda uma fruta.

       E  sempre lembro John Lennon,
       morto . Lembro também  Tancredo
       morto mais  próximo, Doméstico____
       tragédia igual.

      Mas tal certeza de finitude
      é mais  elástica  do que os limites
      dum corpo, está por aí

      nos  pântanos, na água limpa  das cozinhas
      nas páginas da bíblia aberta   no oratório,
      nos hemogramas, no pão. Por onde
      meus  olhos corram  o Semeador
      saiu  a semear, o campo é o  mundo

      o  Demônio  são os outros,
      os mortos  somos Nós. À beira do grande abismo
      doze cestos de pães  e o Cristo longe das casas,
      mais  Longe
      dos  corações. Estou  à porta, Bato.
      Que  vês, filho dum  homem
      recém-escapado aos  fogos  de Cartago?

     " Meus olhos são tão carne, e Curtos
       mas são  legião, são  todo um Século.
       Vejo  três Águias  ao longe

      Ai dos que vendem meu povo
      por dez barris de petróleo
      e não contentes  extinguem  a luz
      dos olhos  das crianças, paciência do Senhor
      é  Finda.

     Vocês mataram  John Lennon
     e detonaram  a bomba do Riocentro
     eis  o sinal de Jonas, címbalo de Hefaistos
     num lago antigo."

    Meus rogos  cheguem a Ti,
    que em torno de  Patmos
    reine,  Senhora ,  a Memória. Dona nobis
    Pacem.

sábado, 10 de outubro de 2009

Soneto Inglês, n.º 1(Pirabeiraba)

              Então renasço das cinzas,
              címbalo espelho  Eterno.
              Pendida  a máquina do braço,
              meninos os homens todos.

              Formas futuras  sonham
              no fundo de corpos-Mares___
              cio dança  as marés,
              mulheres-Alga.

              Acima de esferas  virgens
              deixo os contornos do  Tempo.
              Serei  terraços no  mundo
              andante, de sete léguas

              Depois  trombetas  e sóis
              farão   remanso-Amanhã.

(Escrito em 10/10/2009, cidade de Joinville-SC, no bairro de Pirabeiraba, onde eu morava então, por motivo de trabalho. Joinville viu nascer este soneto e viu também nascer o meu blog "Dois Tantos de Coisas", numa lanhouse que funcionava até às duas da madrugada, no centro da cidade perto da rua do Shopping Müller, o principal da cidade àquela ocasião. Também este soneto foi meu primeiro poema performado no lendário evento carioca CEP 20.000, dirigido pelo poeta Chacal, na primeira vez que o Coletivo Farani Cinco Três, de que faço parte, se apresentou ali, na noite de 25 de maio, de 2011. Nota acrescentada em 2013, 20 de junho.)
                                                   

sábado, 3 de outubro de 2009

Zona Norte

Na praça das Nações
Os homens de Bonsucesso
Incensam seus heróis da Itália.
O bairro é perto da Itararé
Que os parentes do imperador
Rocilham girafas nas lajes.

Mas  sábado à noite não passa
Se as macaxêras Intactas
Em São Cristóvão. O mar é perto,
Lambaio que não se chama,
Que o vento Rente. A mão difusa do cais
É toda os meus arrancos de Varsóvia,
Os meus espasmos de Itiberê
Tangentes da ponta-areia. Repito Osório:
a pátria espera de cada um
Seus braços-árvores em qualquer Sítio,
O mais deixa chover, que a vida____
Pássara, Pressa.