Havia praças num tempo
onde as casas não eram feitas
de mortos. Olhar o céu
se Podia
(e até existia , que minha avó
olhava, e dizia: "meu Deus").
Haviam jardins e crianças
banzando soltas nas flores,
não era proibido.
Guardas municipais
ajudavam moças e os poucos velhos
a subir no bonde, os anjos(morenos, bons, brasileiros)
quase não tinham trabalho,
viviam jogando bilhar
em cima do Palheta,
na praça Saens Peña.
Homens passavam fumando
(nos ombros apenas
o peso dos próprios ternos),
inda sorriam fla X flus na rua Álvaro Chaves,
e ainda adiantava morrer.
Ninguém cuidava do mundo,
nem do algodão seridó.
Era num tempo: as noites
não anoiteciam Tudo,
haviam Estácios, Mangueiras.
Havia lá no subúrbio
o respirão da Portela. Havia a Lapa.
Hoje? Mulheres de ferro
protegem filhos biônicos
dos gases que andam queimando
as asas dos anjos
no que sobrou do céu.
Ninguém mais anda nas praças,
varridas de pó e pânico. Qualquer lugar
é a ilha de Manhattan,
já não se diz passarinho.
Sorrisos técnicos derretem flores
ombros suportam mundos,
antes privilégio
dos edifícios.
Cavamos poços de cimento armado,
morreram Tancredo e o leiteiro.
Não há mais praças,
nem girassóis,
nem Tempo.
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