sábado, 30 de julho de 2011

Soltas, nº 2

Então
faiança da gota nos  Estrondós
caborés: Furdunço
não reparável
homens  Irreparáveis,
velas  acesas na sala: Defunto  de botas novas
família em palpos de aranha,
e as contas do mês seguinte.

Falando nisso
os mortos de Chernobyl
brincam de vaca  amarela.
Demônios gordos
semeiam torres de petróleo
e mais presuntos  por onde passam
com as ferraduras do progresso_____

Exemplo: África  à noite
pessoas-Ossos se deitam,
fome há  Muito
sendo o prato do dia

Então nem cisco de merda
nos pobres daqueles cús_____
são fósseis  os intestinos. Aliás também os estômagos.
Aliás  o Resto.

Casarão(Sobre uma casa-grande do tempo dos escravos ainda existindo ali no Cachambi)

Manhã de fato, e do outro lado da Helder
o casão meio assombrado do tempo do império
assiste ao domingo público_______
indiferente  aos pretos  lá dentro
que não se acabam de Morrer.

A dança das ampulhetas
recende às velas
dos caborés desinácios
se destampando no Cachambi,
quintinas sem redondilha
senzalas  sepultas hoje
no esquecimento  de Sempre.

Mais Jacarepaguá

O barão da Taquara  era tão grande
que ainda hoje tem gente chegando
na terra dele.

Foi Isso: nas antiguanças eram os índios
que moravam nela, achavam grandes  os jacarés
mas os jantavam assim mesmo.

Depois vieram os portugueses
e jantaram os índios, ainda usaram os jacarés
pra palitar  os dentes.

Depois depois de uns bons balalões
veio por fim "seu" barão:
com bigodeira barbanças
medalhas do Paraguai
e virou mini-donatário_____o criouléu nunca mais
atravessou o  Samba.

Os jacarés  fizeram as malas,
foram pra Barra, Recreio, viraram gente:
têm sido vistos nos shoppings,
tomando sol nos jardináceos bacanas.

sexta-feira, 29 de julho de 2011

Hai Kai em forma de comentário

                                   "...eles("poetas") tantos
                                    e  ela(Poesia)
                                    de tão poucos."(Carlito Azevedo)


Demais  o número de pais  franciscos
querendo  uma roda
pra tocar  violão...

Outra Canção Amiga

Eu também preparo
uma canção  Não-modesta
em que  eu mereça  minha mãe
se reconheçam as flores
erga os olhos cansados

Andando muitos países
busque as árvores de Maio
acorde as cores  do  Outono
 sejam  verde-Esperança

que nossas  vidas-Chuvismo
desbotem o cinza das coisas
das horas-Pressa :
Mostrando aos ombros  curvados
 chão azul Passarinho

Eu preparo  canção
que seja mais que apenas  sentimento
e nela  durmam  todas  as Infâncias.

Soneto Inglês, n.º 4

Depois da grande Tormenta
passar no céu com seus trombones de ferro
o filho pródigo retorna ao porto
onde o espera, comovido, o pai.

Andou por terras e mares
viu cafetinas e deuses______
estas o descamaram,
aqueles o venderam pro  Egito.

Mas volta como se dentre os mortos:
Ordena o canto dos corais  imensos
levanta a saia das árvores,
traz na coleira uma esfinge______

os anjos cantam de novo,
vestidos  de  girassóis.

(Este soneto foi um dos quatro escritos na cidade de Joinville - SC, nas primeiras semanas de outubro de 2009. Apesar de sua versão escrita ter sido aproveitada na íntegra, algumas palavras foram mudadas em lugares considerados por mim como pontos-chave. Também faço lembrar, como uma curiosidade, que um título enfeixava esta série de sonetos, eles se chamavam "Sonetos
Nublários". Achei por bem substituir o título. Nesta ocasião eu ainda não conhecia bem TODOS os "Sonetos Brancos" do Murilo Mendes, mas mantinha em cópia manuscrita seis deles, que foram meu principal material de pesquisa para a construção da primeira versão destes quatro sonetos.)

Heródoto

Fui todo  um  Mar encarnado
quando em  Cartago eram fogos sob as sandálias de Mário,
e a morte andava junto das legiões,
céus de fornalha e de Ferro
falando césares  Mortirescentes.

Mas fui retrós  mais Antigo,
prumo quando as palavras Nasciam_____
zumbis de titânio andavam por sobre  a  Terra
junto dos coros imensos,
serafins cavalgando pianos  gigantes, antes do erê Sinfônico
moldar as pernas dos homens
e se chamar Prometeu:

história agora  Falava,
e era  o sopro dos Três______
houveram  tardes manhãs
fagotes e oboés emplumados entoam kyries eternos
à  Primavera dos Dias.
                           (Em 29 de julho, 2011)

Kairós

Instantes num olhos-Púrpura,
mirante dos Séculos:
era de-Noite no jardim dos túmulos
surgi dos peitos de Pedra,
árvores me deram  Nome.

Plantei meu rosto no firmamento dos pássaros,
bebi  o orvalho dos pianos.
No alto do  Corcovado
vi Prometeu castigado
e herói do Fogo assim mesmo:
moldando as pernas dos homens.

Também fui  Íris nos jardins  do hospício,
girassóis saltando Amarelo
no branco dos olhos Todos. Hoje outonos
florejam, arrulho  kyries aos calendários:
Filho do Homem de-Novo
nas páginas de Anton Bruckner,
asas do fim do Mundo.

Duas Águias

Noite. Meus olhos sobem montanhas
até a janela do quarto, serafins chegam com sopros
do fim do mundo
três estátuas em pedra tangendo os cinco sentidos,
pianos  sobre a Memória.

Desço até o mar
com as polaróides  restantes
já não possuo boca pra chamar o  Vento,
virei josés comportados
depois da última anistia______
lembrei que pus navalha no prego,
agora um grito de espanto
emparedado na garganta profunda.

Ninguém mais a falar nas guerras
e que Varsóvia  massacrara isaques,
já não dava manchete. Mundo próximo a queda
chegando com unhas de tango
e braceletes de  Cobra.

Mulheres de vidro  preparam  dilúvios
em caldeirões gigantescos,
com cinzas, corvos, petróleo
pernas de sapo, delfins______

Subo do mar, junto o  Mundo:
mais sete cabeças dez chifres
arnês de bronze, brasões,
só resta mesmo pras rezas
tocar um tango argentino
depois de todos os relógios.

segunda-feira, 18 de julho de 2011

Homilia

Sobre os outonos que Existo
eu visto as pedras do  mundo
em carnavália-Esperanto.

Meus olhos
desceram tanto nos infernos da Terra
que chamei  Nome  a todos os demônios
quando  trombones sacudiram dos céus
saraiva e enxofre  sobre o Orgulho dos homens,
depois  o Tempo  se desfez  do elmo prateado,
relógios se derreteram pelas retinas
do catalão de alumínio:
o corvo torna aos braços da Existência.

Depois de tudo a Virgem branca aparece
aponta  o rumo de Emaús,
destila o cântico do Hóspede.

Meus carnavais de  Esperanto
acordarão  pianos
de um mundo novo em casulo,
depois de o Tempo fugir
nas asas grandes de demônios  verdes.

Mindincanto nº 2


Entonces
demais  Tamanha
a cara da  vida-Pressa?
Mas, vejam: depois dos noves de Fora
ainda um gosto de Muito
a gente amarra  nas esquinas do Tempo,
quando  de-Menos  se pensa
e mais se deixa que a Vida
à  vela Toda  navegue.

sexta-feira, 8 de julho de 2011

Imagens(Para a amiga Liv Lagerblad)

Deste  outro  lado  tem ventos
tem por do sol  na janela,
os nichos da ordem e da desordem.
Tem  Lautréamont  tomando chope  na Lapa
junto do Blaise Cendrars
que puxa um brinde  com o braço
perdido em todas as guerras.

Deste outro lado  tem flores
certeza amores na mente

mas  tem demônios   de olho
com dentes pernas bandeiras, brigitte  à  Solta,
não é sopa  não.

Mas vem depois fevereiro
 depois do agosto perturbando as pipas,
tem mestre  André  parando  a avenida
e abrindo todas  as bocas.

O soviete deu mole
perdeu cadeira na dança_________
os anjos de calça  larga
estão de luto, choram baixinho
a sorte da oitava nota.
(Imagem: Composição surrealista, de Ismael Nery)

quinta-feira, 7 de julho de 2011

Carvoeiros

Noite depois do rush.
Os menininhos carvoeiros de novo
sobre  a  cidade. Parecem os mesmos
do morro do Curvelo vistos por um poeta,
bota cem anos  Nisso.

Não  há mais burros descadeirados,
nem carvão  escapando da aniagem
toda remendada. Mas são eles,
sem dúvida.

O sujo das caras tristes faz  pas-de-deux
com as roupas rotas imundas, as mãos pequenas
rasgam caixas  de papelão(serão vendidas depois)
em plena rua sete de setembro.

Estão descalços apesar do frio(é inverno), a roupa  rota estronchada
apesar do Frio. Corpo há muito
sem banho. Um deles tem nem sete anos,
mastiga  risonho  um quibe
catado num lixo próximo(parece o bicho  do pátio
catando  a vida entre os detritos)_____

e nisso  os  outros que passam(eu você todo mundo)
cegueira  Grossa, agressiva.

São Jorge

Praça de Sulacap,
no vulgo, só macumbódromo.
Cacimbas e barnabés
cambonam  santo guerreiro
quizomba samba de roda
odorações, reverências____
Abril xerém pare   Festa,
ogum magé  vinte e três
festália   Ilé,
Canembê!!

sábado, 2 de julho de 2011

Visões de São Mármaro, nº 1(Para o Augusto Guimaraens Cavalcanti)

O anjo da guarda
desperta da canção primitiva
sobre o berço azul____mundo nasce
e a glória da Virgem
atrai  demônios  pro  Esquecimento
depois da primeira estrela aparecer na  pérsia.

Repousam  formas  veladas
na rua agora deserta
até que o pássaro acorde
e as caravanas de Hagar
nos levem  sobre o deserto
nosso dorso de pérola______

Não  fique  do grande  Templo
tijolo sobre tijolo
no quarto dependurado
sobre os cordéis  da Memória.