Senhor do Mundo
Enquanto reinas de trás-o-Tempo
Sobre os âmagos de tudo
Eu busco nos sonhos
O rosto de alfabetos extintos
Por onde sopraste sobre os homens
A palavra Primeira.
Então que olhamos o céu
Como se dele tivéssemos vindo:
Vênus como se o tocasse
Um braço incandescido.
A descoberta do fogo antecipaste, claro:
nela fomos Homens, e Malditos.
Na aurora do tempo mesmo
Perdi meus esperantos de origem
A árvore da ciência me faz nu
E me derruba junto do primeiro Adão. Depois
A morte, que aparece de gravata grená
E precedida de uma orquestra de trombones.
E desde então
Que geme a carne do universo
Gemo eu mesmo, carne de precária Instância
E pasto dos demônios verdes,
Que me sobem pelos braços da memória.
Há muito que entulhamos os poços de Abraão
Bebendo sangue mesmo
de nossos irmãos e filhos,
Enchendo teu jardim de corpos mutilados
E barris de petróleo.
O sangue que derramamos
Escarra das bocas da terra desde Abel
Até o patrício Jean-Charles
Morto nos trilhos
e nos tribunais de sua majestade britânica.
Os anjos todos gritam Daí, é nada:
nós não mais te ouvimos
Desde que trocamos teu Rebento de Jessé
Pelo inventário do demônio,
Pelo demônio Mesmo.
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