quinta-feira, 31 de dezembro de 2015

Rodopiê de ano-bom(À memória de Mário de Sá-Carneiro e Heitor Villa-Lobos. Pro Augusto Guimaraens Cavalcanti, pro Santiago Buarque e pra Ana Carolina Assis)

Forcas de luz Rodontórias
andam braças onde meus pesadelos
cresceram como grão-castelos
armados de incensários gigantes
a badalhar requiens e Quebrantos______

que eu  - poeta feio e mais Pasmo  -
além de não saber usar a faca do pernambucano
me fiz panzó de Ruínas: leorões sem visgo de asas
nem jubas, e todo o calendário
marchou Funéreo ao som de violetas pisadas
por botas e cascos
de generais...

Cristais retinem de medo  -
são os próximos a virar funcionários públicos
sem mor-consolo de Itabira em parede
(e que talvez plantasse culpas e chifre
nos cacundêros Alheios...)

Inadianta escancarar janelas
porque os olhares de Volta serão capins-navalha
Crescidos, sem nem cheirume de flor
a por bafejo nas focinheiras...

Virgulam-se avós cesaralhos
junto dos Choros do Villa, enquanto claronões e fagotes
ponteiam nas caçapas da Lapa,
onde os sobrados vestem Incêndio em janeiro.

O novo bonde traz elmos e também mortalhas
de maus acantos rinfarando as dentuças
enquanto vertigens maxixam,
"for all" garatujado nas portas______

no horizonte há missas e bacanais
de cambulhada com o rei de espadas
perdendo o cós e a cabeça
às cinco horas na primeiro de março:

que Isso mais requiens e Quebrantos
e braços nus de castelos crescendo nos pesadelos
é meu badalho Mardito
desse ano Rúim que sai com o rabo entre as pernas.

terça-feira, 29 de dezembro de 2015

Poema Reminiscente(À memória: do Manuel Bandeira de "Libertinagem". Com uma pitada de Mário de Andrade. Pra Gabriela)

"Je vois des anges!!" -  Exclama o coronel,
transportado, rolando escadaria abaixo
mesmo  no meio do concerto  de Schumann.
Um telefone  atravessando a noite
engole as flores de Januário,

os  bem-te-vis  da  Lindaura,
o  concretismo  dos Campos:
deixando  chocho  o maxixe
do ilustre  cabo Machado  indo por fim
dar  nos merdéus  da Lagoa:

quase   atravanca  o mergulho
do  carumbé  João  Gostoso, virado  após
em  notícia  e mais  depois
em  poema______

isso Tudão pra lhe dizê, minina dos zóio de Negrume Lindo
que eu neste exato instante
estava era pensando em VOCÊ.
     

segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

Vocação de São Mármaro(Pra Gabriela. E pra Meire Ellem, e pro Augusto Guimaraens Cavalcanti)

Onde saltérios encanecidos
pela fumaça dos cavalos de ferro
tossem relógios Tortos à esmo
foi que amarrei meu jumento  -
os ossos e a pele-jambo que visto  -

marzão fetibundo
eivado de grávidos Mandacarus______
tal e qual o vesgo rei de Canudos
dissera nas rodas de amarelinha:

esse lugar que enferrujou ipês e saltérios
fica ali mais ou menos um quarteirão
depois dos quintos do Judas, esquina
do Beleléu_______

pra ali vão as figueiras estéreis, pra ali
vão os decamerões de Manhattan.
Pra ali vão os borzeguins que jantam velhinhos
nos corredores do Salgado Filho e Hospital da Posse,
ali baterão ponto os trocentões Picaretas que fazem merda
em Brasília desque o planalto era mato
e os portugajos Desmandaravam
na guanabara banguela:

justamente no afã
de converter homens Cornos de seus guelhéus maus catiços
e carimbar-lhes Escape
aos fogaréus dos capetas foi que amarrei meu jumento
nos cafundós onde os cavalos de ferro
manzanzam gosma e manhattan pra riba e leira
de zabelês e saltérios_______

sou Viramundo e Poeta  -  como São Jão Batista,
como Tonhão Conselhêro, como Arthur Bispo
e mais aquele cabruncó das Gerais que teve os causos estoriados
pelo repórter Fernando Sabino:

os Três Primeiros disséro "vai lá mizinfío,
me traz de Vórta esse povéu cabiçudo
que entra ano sai ano mais demais se Aprochega  -
com seus colares e ternos, seus mensalões e cangalhas,
seus aécios e barris de petróleo  -

do boqueirão 'scancarado
e 'anssiiiiim' de dentes-Naváia que desemborca
num tartaréu mais que Adulto  -

onde morrer
não vai servir mais Não."

terça-feira, 15 de dezembro de 2015

Apronto Cacaico, nº 1(Rudepoema para piano)

Fulguras acontecências
no teu olhar clari-Noite que me açoiteja:
e nunca mais vendavais
deixaram de amanhecer
odores ipês-Mandínguios_____

e nem nos centavos me importo
se não consigo sozinho
dinamitar a ilha de Manhattan  -
outros maiores que eu
foram trojobas masgaraiadas
sem dormescências nem Colos de
imaginárias Marílias...

Mas ah meu Brazilzinho não posto
nos matutinos e oráculos de Ipanemá:
não vê que mares-Gerânios secaram todos,
umbú-caminho pras tropas
de lucifér antiga Serpente?!!_____

nem isso me Desconchava -
até meus Três decretarem
que mundo Corno sucumba
em borderês de sopitárias Candongas 
eu morrerei pensarando
no teu olhar clari-Noite, malunga moça de ipês-Mandínguios
e amanheceres Setêmbreos.

segunda-feira, 14 de dezembro de 2015

Nascimento da Poesia

O mundo  mal despertando
do sono da Nulitude.
Pianos  recém-nascidos
andavam atrás de suas mães
nas primeiras planícies.
O homem
era um jardim de estátuas de pedra.

A Virgem  Branca  desceu do céu
trazendo as primeiras estrelas, flor dos Tempos
se Abriu.

Do grande tacho  dos deuses
vieram  vinte e seis brasas
na mão  dum tal  Prometeu
que acende o fogo das Palavras
nas bocas de pedra_____

Houve tarde e manhã
nos olhos do  Homem
abertos para o exercício  do Mundo.

sábado, 5 de dezembro de 2015

Baixo Alumbrário(Loucó Bachiano-Brasílico, para CEP 20.000 e orquestra. Dedicado a todo o pessoal do baixo de natal - 2015)

"...todo o pessoal, manda descer/ pra ver filhos de Gandhi."(Gilberto Gil)

Entonces: natal. Yassu banzando no céu
seus haikorós piscarantes,
Gringo Bráulio e seu Breno
endoidecendo desde as areias da Pérsia:
um monte de Portas para outros mundos
na barriga da perna
e no saco dos camelos, os dois de cima
Inclusive.

A procissão
começa na Lapa,
seu Augusto chama prum chope, Chacal tá ali,
os Sete Novos ressurgem de um guardanapo
espantando o Negro Cipião e o braço
do Blaise Cendrars(o resto dele achou mais barata
a serramalte lá do Amendoeira de Maria da Graça).

Pegamos as tulipas  - feitas com taioba e gengibre,
damos um plá com o fantasma do Selaron
que promete ebós de ladrilho
no Sergio Porto, tudo amarrado
com doses guerniquianas de Pitú
e berros de viva Chile______

Justo e Juju vão de abre-alas Noélico
e o mão peluda de capitão caverna,
o tacape veio do Xingu junto da trupe
de curupiras Mocós:

que é TUDO NOSSO esse natal mermão,
pra boi de hospício Nenhum
achar clavícula Solta______

Vai tudo um loucó de fuzarcas
esquindorôs olerês,
doidêras que se adegustam
goelências abaixo e mais carnálias de Troco,

quizombas de Fulustrices
que seu Hermeto assinaria Rindo
com a turma de panelas de Arapiraca
sinfonizando esse baixão Malunguício.

domingo, 8 de novembro de 2015

Epifania em Surdina(Pequeno prelúdio para Chapel Organ. Pra minha irmã Débora Nascimento)

Dentro de cada homem
tem um minino guardado. tem um caminho
branco de neve com um lampião no meio.

Tem um sítio que fica junto
dum ribeirão de águas claras
e Narizinhos e Emílias banzando soltas ao lado
de cucas sacis e caiporas(também na mente daquela minina
de veludo negro nos olhos
lá no Planalto).

É por isso que ainda hoje quando os Três vão ali
no Largo da Carioca pra olhar os ternos de ferro
puxando um monte de pernas pela coleira
não conseguiram ainda Querer
chamar trombones e tubas
tocados por capetões marombados
trazendo dos Beleléus e confins
o Fim de todas as coisas.

quinta-feira, 5 de novembro de 2015

Perégrinum

Sob as portadas Imensas da grande catedral me detenho,
os sete Rostos armados
da mais sinceríssima Penitência. A eternidade me chama,
qualquer parede ali me bafeja um turbilhão de séculos e suores e mortes
e mesmo os gárgulas parecem sorrir, braços abertos
e um coliseu de "bem-vindos!"
nas caras Tortas.

A praça da cidade é a mesma
desde antes do tempo das cruzadas, quando leões e cordeiros
desceram a Europa em direção aos tártaros, todos se achando Guerreiros
no embate com o dragão da Maldade_____

mas hoje a praça está quieta. O tempo, Nublário e vênteo
parteja chuvismo Próximo. Os aldeões farejam em mim
janelas amadurecidas de sofrimento,
e extensas Várzeas de solidão retrancada
na estrada onde ela vida mais xique-xiques plantou,
e não escondo os zabelês-Chorares
de invernescências desvestidas de sambas____

Mas também sabem que enfrentei  -  euzinho de marré-dercí
serpentes mágicas e dragões e maus ciclopes nos esquindôs do caminho,
deixando atrás de meus pernares de carne
um rastro de pedra e sangue nos olhos já vestidos de Idade,

 e que afinal contemplam da velha igreja os braços da Eternidade
a se estenderem, não mais em Sânscrito ou Grego, em convincências
de caloroso Abraço  - como se num repente
os braços-Árvores de minha mãe de novo fossem meu Porto,
de novo Útero, pleníssimo nos girassóis, e nas manhãs 
repletas de Sêmpreres.




segunda-feira, 2 de novembro de 2015

Cantiga Malunga Iarací(Pra Danielle Ronald de Carvalho)

Era uma vez mundéu Grande,
nascido nas primeiras horas do Tempo,
pela palavra dos Três.

Houve tarde e manhã, 
e um céu Inteiro pras nuvens
andarem de bicicleta, e brincarem  -  se muito gordas de chuva  -
de orquestra de trombones.

Os primeiros jardins
banzavam dálias gigantes
sobre tua cabeça adormecida. O espelho das largas águas
pariu semblantes de teus nove rostos, todos com olhos
da cor da noite mais Linda_____

igual tua mãe
e tua irmã, formandas na turma
das primeiras fadas. Mas...

muitas eras Depois
vieram os homens com seus automóveis
e cogumelos gigantes, vestindo ternos de Pedra______

ó cintilação matutina
do Hóspede que brota detrás da porta
pra julgar os vivos e os mortos!



domingo, 1 de novembro de 2015

Prece dele São Mármaro, pelos homens Descalibrinos(Para ser lido ouvindo "O Magnun Mysterium", de Morten Lauridsen. Pra Gabriela. E pro Luis Turiba)

Senhor do Mundo, tu bem conheces
minha caveira e a pele que visto
por cima dela. Neste momentuum
em que dragões Inauditos mais lusco-Aparescentes nadejam,
os pés gigantes pousados nas cabeças de toda carne
deixando um rastro de Pirescências e enxofres, aqui humilde apresento
meu rascunho  -  quiçá esboço, cambaio embora
de Prece______

Tu que desde as primaveras-Auroras
de um mundo que já foi livre de erínias e maus caboclos
assistes à candência do bicho-homem, rapetês
escadaria Abaixo, onde arde o lago de setenta vezes sete Infernos,
Vós Três meu Deus, lembrai de vossa graça Infinita
que fez Abrão não precisar sacrificar Isaque, e hoje o mesmo tom de Calvário
mais e mais cresce nos horizontes: se não fizerdes aparecer
um meigo cordeirinho branco
por entre as árvores de nosso grão-Descalabro,
nem mesmo a Virgem será capaz
de embarreirar os Beleléus candongões que vão subir pelas cacundas
dos homens cornos escrotos
que inda persistem em maltratar a Mãe-Terra e nós, bichos pensantes ou não,
todos num mesmo carma de tripulantes deste Planeta-Navio
que aparelhaste deste que teu Espírito
pairava à face
das Grandes Águas - atrás das cortinas do Tempo_____

Senhor do Mundo, meu Deus! Vós Três
achem por Bem considerar esta prece
que nauseado ofereço, por meus Irmões bichos-homens, haja de-Novo
no céu de nossas retinas a pomba branca açambarcando um raminho
de verde e tenra oliveira junto de anjinhos murílios, dizendo aos ventos, aos fogos
aos ares e às águas que inda haverão sóis Nascentes,
pros homens de novo Teus, de novo Infantes, de novo Adâmicos sem cremalheiras de Cobras,
brincando às margens do Estige
novas manhãs Sempiternas.

domingo, 18 de outubro de 2015

Brasiliana Triste pra uma manhã de chuva

Hoje aqui na terra dos jacarés
manheceu chuvência por Tudo.
Com todos os olhos d'água pra muito Adultos,
transborderentes pelas campinas de Mim____

É que chove lá fora e aqui. Cá dentro
dess'alma velha num tem janela
nem dique preles açudes
dessa Tristeza que me Torqueja que nem
baile funk de potro chucro pasto fora.

Chove cá Dentro, e lá no meio das árvores da praça.
Mas elas não carecem de minino holandês
que aponha o dedo mindinho na rachurência Rançosa
a craquejar caratonha
pra cidadela Indefesa.

A cidadela sou eu, cabró moreno nascido
de cu pra todos os lados MENOS  pra lua
lua lua lua lua branca por quem és tem dó

de mim minino Sofrente, de mim erê Desconchário,
de mim zabumba sem pele, de mim trapézio
sem corda. Pois hoje o dia manheceu
chuvência, mas cá  -  janelas d'alma pra Dentro
é quase Sempre chuvarão Disgramado.

sexta-feira, 16 de outubro de 2015

Noite no Monte Calvo(Sonho de um Sabá de Aleluia. À memória de Modest Mussorgsky. Para os queridos Guilherme Gonçalves e Luis Turiba. Para Gabriela, Musíssima)

"Aos quinze anos eu nasci/em Gotham City"(Jards Macalé/Capinam)

____AAAAAAAaaaaaaaaaaarrrrrrrrrhhhhhhhh!!!!!!!.....

                                                                 (PAUSA)

En
tonces
tonces
tonces tum
tum tum TUM    tum tum
tum tum TUM TUM TUM.
TUM:  

bródio maledizento
dos zabelês do Cramulha______

aos quinze anos me Vim
pras gotham citys Putrééééérias
mais que Tranchantes "na história deste país",

onde miribas com gostorô de Sanguêra
é tudo o que os laranjais suicidas
ofertam no altar dela pátria, madrasta
pra o povoréu sem cueca
e sem conta nos roncós da Suíça.

Eu sou trocentos sou trocentoecinquenta
de pedros-bós enxós-Cabraques morrentes
não mais a mão minina
do curumim feioso que Fui_____

antes do pai tão curió de francisco
que não contente em masgaiar violões
pra fazer pau de Rebite
inda mascou com farinha
as asas que um dia pediriam
meus olhos em casamento:

transpimentêra do capeta em Fúria
foi meu xibíu ancorescente, roncôlho
naturiMorto aos quinze anos
nas gotham citys do país Madrasto,
surfista em samba e Sarrafo.

Dispois dos vinte é que a pauleira gemeu
sem pai sem mé nem tarrafa
que urdisse uns peixes de xelins-Muquécas
onde mulatas biônicas
pudessem transformar água em Vinho
e faixas de Gaza em Praças XI
de festões Murílios.

Mas
pra malderêêêêu há curimbões-de-Feitiço
nelas trocentas peles que visto,
e exus-Morcegos à solta no pátio
junto de anitas e kellys e catras
regendo um rancharéu de Capetas
plantando grilos-tridentes
nas minhas futuras caveiras
já transesgalgas morrentes como um trator é Vermelho
nos quintos-bródios do Judas______

são zabelês dos cramulhões Catingudos
transpimentados nos quarteirões
sem janelências nem portas
nem particípios vestindo ipês nos cabelos
dispois que moça Camélia
caiu dos galhos-Infância,
e dois suspiros depois foi morrer
às cinco horas na avenida central.


domingo, 11 de outubro de 2015

Sermão de São Mármaro sobre as Antigas Manhãs

Eis que nos encontramos, onde a vida nos trouxe pela mão
entre espirais de cem braços
na estrada que brotou dos seios de uma deusa.
Você no planalto que viu nascer
uma nova Atlântida pelo esboço de Oscar,
eu nas areias do mar, erê-Malungo que viu ao longe
as caravelas voltando aos portos de Lisboa.

Mas temos almas Velhíssimas
de termos visto a Virgem trocando as fraldas
das primeiras estrelas. Pianos filhotes corcoveavam
pelas campinas, e nos ombros das árvores a voz dos pássaros
enchia os ares de oboezinhos ligeiros
cujas notas brincavam como sacis
nas linhas suplementares da pauta.

Os Três Primeiros te moldaram o Rosto, pondo garoas de Universo
nos teus olhos de veludo escuro.

E te falaram: "Terás cem vozes de sabiás cantadores
que façam mulheres e homens
vogarem no rio dos Sonhos. E mais______

antes do fim do Horizonte, antes que se gastem os céus
tu darás de comer às roseiras,
de beber às estátuas,
e de sonhar
aos poetas."

sexta-feira, 9 de outubro de 2015

Poema da moça dormente(Pequena suíte para ocarina e fagote)

Sentado à beira do mundo
contemplo as casas  em fuga.
A tarde cai no Planalto, pássaros  escondem o Rubro
no fim do horizonte,
o braço da primeira estrela
acende a próxima  vigília.

Escuto  o grito do oceano,
chacoalha  seus feixes de mortos,
move  gáveas  Extintas.

Sombras  vestem  pirâmides,
guardam  a esfinge  sem  Rosto,
também  marílias, alferes_______
sussurros de Vila Rica
nos olhos do poeta sentado
à beira do mundo

mais longe  árvores se abraçam
num breu por Tudo,
tambores calam, deuses  desmontam
de seus homens.

Entre cartilhas  e  girassóis e pianos
cercada de anjos e livros na cidade-Planalto
a menina corre as cortinas
por seus olhos de veludo escuro
e adormece.

terça-feira, 6 de outubro de 2015

As Naus


 “O que não tenho e desejo/é que melhor me enriquece."(Manuel Bandeira)


O que não tenho e desejo
me faz  Humano. Assim  querência
desque foi Côco o guariba*,
descendo os degraus das árvores
pra ser Pai Grande em terras do sem-Fim.

O que não tenho e desejo
me fez cabinda e Jaci: o Mar
onde os abismos e a surpresa dos fins que não aportam Nunca,
tesouros de sangue e Corte.

O que desejo, não tendo à volta do umbigo
levou meus pés das savanas
para os terreiros de senhor e escravo, 
onde mortalha era o motor das giras
em muitas noites Escuras, as sobras
sendo vencidas no tapa
entre meu filho e os abutres

Houveram tardes manhãs
no sexto dia prolongado ao extremo
querubins cantando o Depois,
história
num fado lógico:

O que não tinha e Queria
levou meus pés da porta das cavernas
à  direção das Estrelas, apesar dos quebrantos,
do candomblé das sereias
desses abismos, fronteiras
de mais lugares sem Fim.

(*)Guariba: espécie de macaco.




 



sexta-feira, 25 de setembro de 2015

De Profundis(Salmo 130. Lamento da viúva do caçador morto pelo Curupira. Elegia para flauta doce contralto solo. Para Gabriela Ziegler)

Entonces
nesses boitempos em que mais me Apanho
em mores fuzarcas de ladeira Abaixo
mega me assaltam forqueirões Parrúcios
de meus espelhos que dizem que sou
restolho de carnegão
dos vortiscentes cem braços  -
(velozes cérberos Incandescidos, magrélia mão)  -
dela a morte a carunchar
as últimas infâncias restantes 
na pedra de meu olhar Fatigaldo...

Há bem dez anos não Vijo
nem cor nem rosto de sol
nas sopesadas varandas das murcherências
que são toda a ganzália que Visto_____

Outonos cânhos em transrisotas marotas
de mil chanfalhos e mais caveiras
com rostos Medusiscentes...

mega me assaltam forqueirões retintos
nos alabês de multivárias Sombruras...


sexta-feira, 18 de setembro de 2015

Visões de São Mármaro, nº 12(Para a Lisa Alves, amiga, querida, guerreira)

"O poeta desfolha a bandeira/e a manhã tropical se inicia"("Geléia Geral", de Torquato Neto e Gilberto Gil)

Poeta desfolha a bandeira,
manhã tropical Noiteceu.
Mataram Galdino, o leiteiro,
mais nossos sonhos de um país Taludo, isso bem
desde aquela primeira missa
que meus avós Maxacalis assistiram____
antes de virarem janta.

Poeta desfolha a bandeira,
manhã tropical Escafedeu, batendo a porta,
escandalizadíssima: terra brasilis
gerou tucanos-Estrôncios
que pastejaram nosso patrimônio,
sob pretextos jacutiDefuntos_____ uns tarumbés travestidos
em pele e voz de cordeiro.

Poeta desfolha a bandeira
e nossa mãe Amazônia desce o ralo do mundo
enquanto a Virgem chora nos degraus do espaço,
os anjirinhos barroquês num desespero Doido
que faz as pedras Gritarem
jongo pra lá de Inútil, que os homens-Cornos
batem cabeça pras Más-sereias do cotidiômetro
sem ver lá no fundo os cordéis puxados
pelo Cramulha com dedo torto.

Poeta desfolha a bandeira
ano que vem mês que Foi____  ê ganga zumba
iê iêêêêêêêêê________
cansura(pra muito Gasta) essa mesma dança
carnegã,
zé meu Boi.

segunda-feira, 14 de setembro de 2015

Música Urbana(Pro Khalil Andreozzi)

Khalil meu rei
olha só:
esses tais trens da malha
suposta e propagandesmente têm
sapatês de Mercúrio
e cerebruns de Minerva
nas salas da controlância, isso o que dizem
os pinóquios governescentes.

Mas qual, o realejo sem máscara
é multitúdio nos caprichômetros e puxavantes,
e tiram a gente do sério____

parecem mesmo, 'credite
as mariás de fumaça
dos trombolês Misantanhos: uns jabutis
com chaminés nas costas.

domingo, 6 de setembro de 2015

Instantâneo, nº 1. Pra Sarah.

O cavalo de aço
clopeia, chinesmente.
Cloclópt corre

imensas retas de ferro.
No ventre dele um cabrunco
mastiga. Contrito e
reverentemente um
pequeno retângulo, suposto
doce de leite______

que não é Minas, não.
Mas serve.

quarta-feira, 19 de agosto de 2015

As duas espadas(Pra Liv Lagerblad. E pro Hugo Stutz. E pro Guilherme Gonçalves)

Manhã seis horas. Cafofo
dos jacarés. Cama larga, nudez Inútil(ombro
Nenhum).

Pra mode hoje
desjejuário do sátiro:
parco binômio,
banana-prata e maçã_____

"Então lhe disseram: Senhor, eis aqui
duas espadas. Respondeu-lhes:
basta."

terça-feira, 18 de agosto de 2015

Cinco brincolências de zabaretês no início das águas de março(Pro querido Luis Turiba. Pro Augusto Meneghin em seu aniversário)


Como se Ofélia masgaraiada
dentro de sete cântaros  -
cubista, subdividida  -
sonhei vertigens Carônteas
num campo de açucenas retintas
em mais vespeiros Cabrúcios.

Ainda assim fez Sol na cidade, o carnaval brincalhava
debaixo dos suvacos da Estátua:
anjinhos Murílios formavam pares
junto com as nêgas do Chico, o turumbamba
foi soproréu de trombones enquanto losangos verdes
eram vistos nos degraus do espaço____

e me esqueci das centopéias gigantes
que me assombravam as janelas do crânio,
deixei Ofélia nos cântaros, não sem antes lembrar
que aos mortos cabe sepultar seus mortos
segundo palavra dos braços-Árvores
do Cristo Ressuscitado____

hei de brincar de Horizontes
pra destrancar as Infâncias que os homens cismam em Descadeirar,
depois os mesmos anjos embrulharão meus cento e dez olhos e ouvidos
em linho fino da Pérsia, desmontarei meu fagote
e mais retrós bricabráquios:

esquecerei que um dia existiram tons de Vermelho
e serei mais um folião, liberto enfim

do Cálice da matéria.

Rapsódia(Para Sarah Valle)

Esta noite eu te encontro nas solidões de coral
onde a força da vida nos trouxe pela mão.
No mais alto dos montes
uma dançarina se desfolha. Os sonhos de tua infância
são cantados por dezesseis sereias.
Há no fundo dos mares uma grande borboleta amazônica
que nasceu para te servir.

E te apresento o espelho das águas
embrulhado em sedas antigas. Nele escribas fenícios
me mostram teus olhos de Jade em brilherescências
de pianos pelas campinas,
debaixo das árvores do céu_____

Vejo mundos Infindos nos horizontes
desse teu rosto Mágico, portais abertos
onde arco-íris de mais promessas viventes
se apenas tu me Sorris.

sábado, 15 de agosto de 2015

Alguma memória, de um tabaréu não-'Tabirano(Para Sarah Valle)

Nasci no Méier, lado de lá
dos gadanhos do trem.
Lundus cortaram as árvores azuis do céu
em cem possíveis caminhos,
dançados por anjos músicos
banzando orquestra de ocarinas.

Enquanto isso o Renato
(inda era Manfredini no planalto central)
ganhava perna biônica, graças
a três pinos mágicos.

O povo todo chorava por um presidente
que não era mais peixe Vivo. Brasília
ficara Órfã, pra Sempre.
O general do momento
(que andava lá pintando ebós e o diabo)
era alemão até a raiz da medula______

e o regime era de pôr inveja
em tudo quanto era Houdini  -
peagadê nos sumiços
dos meus irmãos zés-Cabruncos  -
lá nos gramachos do norte
o tio sam adoraaaaava______

chafurdarava de gozo,
rebolando as ancas
e o cu.

sábado, 8 de agosto de 2015

Valsinha pra Tu(Para a Ninfaniversariante, Sarah Valle)

Tu, moça: possuis um delicado veludo
nesses teus olhos que falam sânscrito de tez mais Antiga,
nebulosas longínquas  a bocejar planetúrios
onde eternamente é Verão____

como se sóis nadassem todos na languescência
que vejo nos alcantis e declives que desabrocham quando Sorris:
céu claro, firmamento dos pássaros

tão mais flautins brincalhões
por entre as árvores azuis do céu, e cá embaixo nas matas,
nos cerros e estradas e rincões de tropa onde passaram em Fuga
os ouros de Vila Rica  -  de dentro das veias cavas
de nosso grande País______

vão dez mães d'água invejosas
de eu preferir-Te mil vezes
em mil possíveis  Surgências.



 

sábado, 25 de julho de 2015

Batalha de Itararé dispois das onze da noite(Rapsódia Rombuda. em Si maior, para piano)

Às vezes de empós as onze da noite
penso em chamar o arcanjo Miguel,
passar-lhe um Pito daqueles_____

mostrar que os anjos músicos lá da Saúde e Gamboa
andam pra mais de metro exagerando nos pifas,
dispois quem paga o pato  -  à vista,
e com dinheiro trocado  -  são as tias Martas,
Generovevas Alices Vânias
que perdem a magra pensão Inteirinha
pros atuais mininos carvoeiros, órfãos
de um estado Corno.

Pra não falar nas tragemerdas  Jacintas
que são as mortes nos corredores do hospital da Posse,
mulheres, velhos, cabruncos de toda cara
fazendo a Grã das passagens
da Pior forma possível_______

minh'alma pluriDistroncha
com tanta verve Roncôlha
desse mundéu de breu mais pleno
dos automóveis do Cão
perdeu de sete 'ssa batalha,
fugiu com mil e setecentas pernas
junto das caravanas de Hagar
pra adonde a árvore da Ciência
não tenha nos galhos visgo de Surucucu______

adonde não veja mais os namorados de Jandira
babarem nos seios dela,
depois irem todos, ponta-cabeça até o Talo______

para as profundas dos Quintos.

quinta-feira, 23 de julho de 2015

Equatoriária(Pro querido amigo Ullisses Areias)

Num tempo onde na curva de um rio - estígio trôlho Distroncho -
os corações perderam a corda que um dia os anjos chamaram: 
vida cor floridões de primaveras Dançárias,
dentro d'alma da gente grávida
de infâncias que pareciam morrer
mais nunca de Núncaras...

em este tempo de hojes sem visgo de manhecências
nascentes de esperanças Antanhas
os homens cornos candongos se vão num desbordó Catifundo
na direção da porta dos Quintos, deixando na estrada toda
restos de rosas, os peixes do grande milagre, 
a máquina do Calvário e mais cinzalhas de cais
há muito órfãs do passaréu de Lisboa...

a morte anda levando
vida mais que Ocupada:
juro a vocês que mais hoje mais amanhã
Caronte foge gritando
de tanta alma penada que ele tem que levar
pro outro lado do rio, estígio, trôlho Distroncho____

deserto onde mundo
é muito Muito outra coisa.

segunda-feira, 20 de julho de 2015

Cantiga Tristirininha, em ré menor(Pra querida Sarah Valle)

O que nas Antiguanças já fui  -
criança alada com latifúndios de Vôo  -
hoje são dunas de sal,
são lágrimas, Oceanamente_____

meu pai Roncôlho nunca me disse
que era bom pedir conselho pras flores,
que ouvir o canto das mães d'água à tardinha
punha em fuga as jitiranas do Mal
e os prequetés do Capeta,
e que homem e mulher são Um
dentro da mesma carne.

Mas não____ meu pai tinha na cabeça
dálias de ferro gigantes
e árvores-Monstras chovendo ácido
nas pegadas que levavam aos marcos do Horizonte,
caminho aberto desde Emaús pelo Hóspede,
que hoje nas minhas cinzalhas
(um dia campos de trigo)
são galeronas pejadas de caiporas-Rúins,
penumbras d'água Malsã, silêncio de losangos Frios,

sem mais um visgo de sol
tamborilante nas janelas do quarto.

domingo, 12 de julho de 2015

Nº 10(Improviso em forma brincante. Pro Rafael Zacca. E pro Augusto Guimaraens Cavalcanti)

I - Prelúdio

Direi mandingas ebós
más candongas
do vil socorro do Embu.
Inácia a lontra
descamba  na geremário 
fugindo o corpo mais nu
pra se possível depois
daronde as botas do judas
e o raio que os parta.

II – Acalanto ao Contrário


Perdido  o mar e a esperança

num resta em rócio mais bonde
que leve ao largo do guimarães:
eu disse  "Augusto meu velho,
fudeu-se toda a certeza
de Acalantícios quando chegar
amanhã”______

pois tudo em roda é Salsêro
de nunca mais esculturas, nem girassóis nos telhados
nem cavalos marinhos dentro das saias das moças,
nem mais rezas pra sequer
três lâmpadas, nem mais bórgias divinos
sumindo nas sementes  de  Guando.

segunda-feira, 6 de julho de 2015

Carvoêro(A todo o pessoal da Pastoral do Menor, em todo o Brasil. Ao INPAR - Instituto Presbiteriano Álvaro Reis em Jacarepaguá-RJ, há cem anos lutando pelas crianças Descadeiradas. E pro Heyk Pimenta)

Em este mundo  -  candongo corno Absurdo
adonde há muito não soam mais
as ocarinas do Hóspede  -
os atuais meninos carvoeiros(Ê carvoêro!!) passam,

em nossas praças e portas e chafarizes
chafurdarando seus papelões e descadeirados futuros
nas nossas caraças de pedra,
em nossos ouvidos Sepúlcrinos, e prosseguimos  -
rodopiões do Cramulha  -  como se nada houvesse
fora da curva ou do tom______

enquanto que eles  -  Ê carvoêro!!  -
se descaroçam num grito
pluriInouvido:

____A gente aqui nunca teve
seis anos de idade.

quarta-feira, 1 de julho de 2015

Paisagem Cânha, nº 7(Ao amigo André Pessôa)

Rio. Janeirão quatorze.
Cidade ver trampolices
nesse verão de mor-Chegança
nos trincabraques diabolôs-Fogaréu.

Pois o ronquê dos trombones
cabou Roncó de chuvarada ao Contrário,
que as nuvens  -  outrora uns capivaras enormes às cabelanças no céu  -
andam pra muita
desmilinguência.

Caymmi bem que avisou: bora
chamar o Vento.

terça-feira, 2 de junho de 2015

Poeminha

Teus olhos, mulher  -
te digo sem desnorteio ou vergonha  -
são de Encantários escuros que
(na verdade) são luzes, milhões de Cores, estrelas-Íris
e reticências onde as palavras, Atônitas,
apeiam dos cavalos da fala_____

feitas escravas de só querer-Te por perto,
como um campo de girassóis procurando
a estrada velha do Sol.

domingo, 31 de maio de 2015

Rodopiaréu(Pros amigos Xandú dos Ratos e Dudu Pererê)


Na cidade dos homens não se repensam
os planetas  -  embora eles desandem na avenida Atlântica
com febre de dinamite 
e o braço extra do Blaise Cendrars
escadescente das nuvens junto a solos
cósmicos de fagote____


durante as cheias de 66, enquanto seu Lacerda

distrombicava mendigos no rio da guarda
dona Verdade se azulava pelo quintal dos fundos,

não teve como a velha jaqueira
parir-lhe xeréns de andor-Permanência: além de seu Lacerda
o gigante Beleléu 

relava furioooso ali Rente
enquanto  as nuvens sopravam seus trombones

de cara feia, 
como em vingança por Jesse Owens(morto pobrinho de marré-dercí)
e a perna do João do Pulo____

 


Daronde a gente concluí

no fim da noite e dessas trocentas brejas

recém Descidas pelos goeléus abaixo  -

eu mais os compadres Xandú e Pererê aqui na Lapa

solenemente chegamos ao veredito
de que na cidade dos homens(e pra má-Fudência deles)
desanoitecem(sem esperança de visgulêra de sol) canduras de floridões, mais as Infâncias

e as Cores,
pois eles homens(os Cornos) banzaram petróleos e dólares,

mais xurumelas e outras seiscentas Mortes,
esquecendo nos baús, nos sótãos e em mais gavetas sem chave

a luz da Palavra Antiga,

o abraço amigo do Hóspede.

quinta-feira, 28 de maio de 2015

À Musa de Lusáfricas

Achei todo um afro-Tesouro
no rio imenso escondido entre teus braços-Mátrios, 
e cada margem me diz
que eu vá pra águas mais fundas onde és Intensa e és Flor,
delicandário de amores 
em primaveras de trezentos Sêmpreres.

quinta-feira, 30 de abril de 2015

Lema

Em um mundo tão...
corno, oco, Candongo_____
as cores nem sempre
são partinpins Florescentes.

Mas sobretudo  que se Amar
os homens(esses erês

tantas vezes sem Sal,
nem Graça).

Drummondíada(Pro Heyk Pimenta)

E agora, José______
Sabença é o que gente aprende nos limitês
onde ele tempo Cafunga de não se dizer mais:
meu Deus,

e dos sonhários de Eterno
fica esse gosto acre-Rúim,
e a sensação de que a vida

é coisa-nunca, de Núncaras.

terça-feira, 28 de abril de 2015

Rodopiê Marmarino (Êxtase de São Mármaro, nº 2. Pra Danielle Ronald de Carvalho, e pra Irmãzinha Flavia Iriarte)

Nas praias lôcas do país do sol
vi anjos músicos tocando sambas
onde Notória era a presença da oitava nota,
e toda a ala das baianas e a bateria da Portela
foram Fuzarca só
nas linhas suplementares da pauta.

Nas praias lôcas do país do sol vi Nostradamus pagando litros de chope
pros moradores do(condomínio) São João Batista,
bagunçália que fez todos em Botafogo
subirem pro Sumaré,
perdendo no dia seguinte as barcas pra Niterói
(Araribóia inclusive não vendo nas catracas
desembêsto Nenhum, soltou muxoxos de bronze,
achando aquilo uma barbaridade).

Isso pra não falar
nos tiés-sangue sentando pica e porrada
nos pombos da praça XV, não teve um só cocuruto
à salvo da Cagalhança, ali da primeiro de março
até depois de Nova Iguaçu.

Mas foi tanto, tanto, tanto Enxó-Birutício
num curto agueiro de tempo que Dona Chica
não só dimirou-se-se,
fugiu no carro de boi
dos freis dos torreões de São Bento,

e foi a primeira vez que cidadela manhou
alvorada sem quirieleissão,
bem desde Estácio de Sá. Amêndoa-amém,
orogunhê-Camará______

nas praias Lôcas do país do sol.

sábado, 25 de abril de 2015

Desesquindôs Malescentes (Pra Danielle Ronald de Carvalho, e à memória de Mário de Sá-Carneiro)

Faz hoje uns dez traulérios de tempo
desacordei estronchado, Fudido:
firmária a mais Cortante das mortes
ver iguaxins guampando ausências e dores,
erês descendo Toda a ladeira______

um pouco mais de Azul  -  talvez Nortes
um pouco mais de Sol  -  Caxambures

mas tudo Errou num piche mor-Desembêsto,
gravatás à parentelas Defuntas:

que tive um pai por meu primeiro Carrasco,
mestre Rombudo de tudo que era Naufrágio
e mais quebreiras arigós-Castrança

empós depois
capetas verdes escalaram o Abismo
'rancando as estrovengas restantes_____

desesquindôs Malescentes
a rabecar Brecas mortas, Fudidas
em meus erês descendo Toda a ladeira.
(Imagem: Estudo para o labirinto do Minotauro, de Salvador Dalí)

quinta-feira, 2 de abril de 2015

Torrenciógeres Brasilicósmorum (Lundu Pátrio, pra Carolis Vaez)

Prenúncios de balaiagem  -  braços cabindas enormes
renquês mais pernas rês-Descambaias
numericadas benditas
nos costerões Camarás_______

daronde flores fulgurando abril
serão descanso pro nosso Alferes Inconfidente  -
traído ferido morto masgaiado empós  -
os ossos Desajambrados
pra nunca ver sepultura______

mas onde morte roncara
banzés de cores Intransitivas
um Rosto nasceu, foi ranchurim de Chegança, fruto (quae sera tamen)
do sangue posto em holocausto
no altar da Pátria Nascente_____

um ver zé-Povo cujo esplendor foi Coisa,
quizomba festura Quanta
no banzaréu tamancudo
do mundo grande sem porteira Nenhuma.

terça-feira, 31 de março de 2015

Confessio (À memória de Stela do Patrocínio)

Há tempos eu sei
que devo respeitar os loucos.

Isso bem antes de escrever poesia.
A poesia aconteceu pra mim
no augúrio da virada
pros trinta.

Mas antes disso fui músico.
Ainda entorto os fagotes.
Zabumbo nos pianês.

e desde quase sempre soube  -
mercê do Carma do Artista  -
que o universo adonde os loucos Oceanam

é cochambre Infinito.
Particular.

Epigrama (Pro Rafael Zacca)

É o calo
aquilo


          corte

         
                        forca


                      Jacinto


que


sAPEEEEEEERTOapatos



                                             mais



Deschanvelham.

sábado, 28 de março de 2015

Elegíada, em modo Sepúlcrino, fá menor (Pro querido Guilherme Gonçalves)

I)Prelúdio

Meu pranto nasceu cresceu
zambis-mucambos Inteiros
onde eram rostos-Jardins,
que meus xeréns zabelês  -  ipês de prata
Noutros céus de minino  -
fugiram todos correndo quando na porta da frente
mais Catinguda apareceu(mais adultícia, mais Férrira)
a tal da vida mais Vida.

Meu pranto roncou Vicência
nos aritís e Pandoras
depois que as águias da Noite
roncaram quintas mais Vastas
de amargarências e troles
rombudos gordos nos transcendês
ver diligências filisminas Malditas
rondós zaralhos não mais os lápis de cor
um dia maduros de Infância...

II)Incelênça

Meu pranto  -  magé-Barrício
hoje é meu vinho meu pão
mais pitéus de Nunquices
agora que Mara* as extensuras da terra
pra adonde meus olhos cornos
rabisquem rumos, procuras
e fuga à frente do Inverno_____

não vijo corças aladas
e nem Luandas de tambores-Sonhos
porque me fui troncho,
rabicho encôche ver negrumes Adultos
cós de estrupício mafaldo
maldito em tudo que é Dor
já 'maginada vivida
por leguelhés Fedentícios
mais catingudos nos cangalhés Sepúlcrinos.

(*Mara: palavra hebraica, significa "amarga")


sábado, 21 de março de 2015

Oscarício (Pra minha irmã Laura Pires. À memória de Oscar Niemeyer)

Pranchetas
suam sanguês de concreto:
rasgo de nuvem chovendo curvas,

quês de carnália, Furdunço
no mundaréu 
ver retilês Remelentos
foz-de-Mesmice_____

na areia da praia
Oscar risca o projeto.
Salta o edifício, isso apesar
de que há Muito se acabaram os homens.

Rabisco Ibó, Cinzalhudo (Pro Heyk Pimenta)

I - Prelúdio

Um dia meus olhos viram
espelhos fora das Águas.
Foi quando uns zé-branco nuns pirongo Enorme
chegaram do cu do judas
plantando mortes,
mata Adentro.

Com eles chegaro uns bronco di vistido preto
chamando quirieleissão.
Nossas filhas choraram sangue
parindo ebós Marabás.


II - Embolada

Faz tanto tempo e parece:
desdontem esse Despautério
ver cinzalhas rombudas Gordas,
elas noites distronchando Nuncas
pra meus zambis Quixotês____

e ISSO que meu povo só num mesmo século
perdeu Tancredo, o leiteiro, mais Juscelino
e Brizola,

fora Renato, ele só:
Inteiro ver-Legião.

Estudo em Putas Sofrências, dó sustenido menor (Pros queridíssimos Carolina Turboli, Flavia Iriarte, e Lucas Viriato)

Eu sou maldito, confesso
maldito, e leso de Tudo. Cabrunco
em putas Sofrências,
pranto-Apronto mortalhe_____

cinzalha-Má tribufícia
de mais falérnias Extintas
sou eu maldito, Confesso
lazário foz-Calibrino.

Joana a Louca de Espanha
(demente, prima postiça
da nora do bardo Tísico)
jamais sonhara armistícios
de fins solstícios-Morrentes
como esses que em mim: Derranque,
a chama esgalga partindo
empós as cores Defuntas,
mais traumatoorozimbos, baobás Entroncários
de ver quizombas mais Nunca
nos olobórios do cu_____

sou triste, corno, maldito
ver descochambre à Bangu
um dois três quatro dez mil
de enormitentes candongas jazendo mortas_____

desque anjos Tortos me viram Fora
do túnel-Ninho que foi o ventre de minha Mãe...

domingo, 1 de março de 2015

Primeira Gira de Março (À memória de Arthur Bispo do Rosário. Pra Danielle Ronald de Carvalho, e pra Liv Lagerblad)

Tez cerzida em cangarelhos de encontrôs Cabindas,
múltiplos Armagedons, Urupuçás e mais xangôs do Infinito,
assim teceste o Manto da Apresentação
sob encomenda dos Três_____

sopraste hálitos incandescentes de xeréns-Dragões
nas quarenta mil perguntas sobre o final
dos Tempos, o Trono Branco de ingás-Neutrínios e
os Condenados em jongôs nos Quintos, 
Japaratubas que novamente descerão do Sergipe
quando julgares vivos e mortos, como disseste aos basbaques
nos torreões de São Bento...

cinquenta invernos despentearam as árvores de Jacarepaguá
enquanto lá fora os homens dividiam o átomo
e soltavam corvos nos trigais do Hóspede: tu, ao contrário,
dos gurundús e gramachos erguias com remeleixo de monge
um Constelário de zabelês dos mais Chibantes*
já vistos neste mundão Roncolho, pra gáudio
da Virgem Branca______

quando por fim descansaste, e cavalões migradores
choraram tua morte num desembêsto pelas planícies da terra
Geraldo Erê-Viramundo te envolveu  num carinhoso abraço quando adentraste
as Alturas, enquanto anjinhos de calça larga e gravata borboleta
fuzarqueavam um Batuque, aquele mêrmo____
que a chata da sinhá num queria
na cozinha dela.  (Escrito mesmo em primeiro de março, 2015. 450º aniversário da cidade do Rio)

(Imagem: Bestiaire et Musique, de Chagall)
*Chibante: bunito, lindão

sábado, 31 de janeiro de 2015

Soneto Inglês, nº 86(Sobre Arunquê des-Brasil. Pro Augusto Guimaraens Cavalcanti)


Na Cramulêra que as cidades Viraram
passam mugentes boiadas
bafando enxofre pelas ventas de aço.
Abismos que não devolvem

Os aimorés guajajaras plantados no Beleléu
desque uns pirongo enorme
chegaram trazendo uns branco de saia:
e já chegaro masgaiando Tudo.

Dispois foi Coisa(inté hoje) esse jambú dos infernos
mandando pra Zé Caronte os cabró preto
que apesar das chibatas inda fizero
isso Daqui que a gente chama de Pátria____

Onde Amarildos inda se fodem às pencas,
fadados a não parar de morrer.
(Imagem: Cenas Brasileiras, de Portinari)

quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

No Bosque Antigo(Para Heyk Pimenta e Carolina Turboli)

"Os sonhos que rabiscam velhos mares não são mais daquela finitude antiga;
e ser, nesta meia-hora, é descascar sem muita pressa, é interpretar nuances de magia"
                                                                           (Ana Cristina Cesar)

No bosque antigo o mês setembro
por Tudo. Noite alta já.
Três mulheres de pedra
vigiam-lhe os passos
desque de Emaús chegaram novas do Hóspede.

O ar como que enchido
em grandes poços cabindas,
no céu por sobre a planície
ela Senhora, a lua negra.

As três mulheres de pedra dançam a Roda,
gargalham em seis idiomas
grandes árias do Êxtase.

No bosque antigo a primavera Chega
montada em coches de bronze
sobre a largura da Terra, os mapas todos
nos vagalhões da Memória:
homens caem do tempo.
(Imagens: Três mulheres nuas, de Ismael Nery. E pintura de floresta à noite)

Cântico de Antares(Pro Augusto Guimaraens Cavalcanti)

Então que ainda me Existo
sob essências de  Pedra. Aquela nuvem distante,
os corvos em Tel-Amarna,
trigo nos estômagos do  homem.

Cinquenta e seis dias  fui  balaão no deserto,
eram  de areia as  palavras.
Primeiros deuses foram  estátuas de sal
sob crepúsculos ainda jovens
do  grande  Eufrates. Houve tardes,
manhãs.

Inda me  Existo
defronte aos  grandes Áquilas  de  ferro,
areias presas em relógios
me lembram  pássaros-Bronze________

Devo  Existir  até que sopro dos Três
complete  o   Livro  dos Dias.
(Imagem: Eco Morfológico, de Salvador Dalí)

segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

Arpoador, à noite

Esta  noite  te  Encontro
junto às areias, num  dia
em que libriões  pneumáticos
andaram  sob  um céu de bronze
com girassóis e urubus, passando  a tarde
entre a cabeça  e os  braços  da Estátua,
após subirem nus  o corcovado.

Desfolho dálias  gigantes
sobre  teu  corpo, junto  às  areias
dum  solitário  mar de coral,
enquanto  assamos  os peixes
e  os  cinco  pães, à  espera  do  Hóspede.

Vemos  poemas nadando ao longe
e  tu  me  lembras   dos  nossos
andando  sobre  pianos,
quando  as nuvens  nos  serviam  de alimento.

Hoje  esperamos  a  Virgem
trazer  nas asas  o  fim  do  mundo
e enquanto  isso
andamos  na  máquina  do sonho
sobre  tapetes  submarinos.
(Imagem: sem título, de Salvador Dalí)

Quadro (Pra minha irmã Débora Nascimento)

Oswaldo  Cruz  coroaço
um dia  em frente  dum pintor:

O tom grisalho  do cabelo,
o bigode negro______
os  mesmos  das futuras   cartilhas.

Linho  branco  de  impecável  terno,
um bolso  esconde  da vista
a  mão direita, enquanto a outra  -  Lassa, 
junto do panamá

O  olhar  se estende  pra  bem  longe_____
 flerte
à  eternidade   ali   Rente.

(Sobre  quadro  de  J. Batista, numa reprodução
vista  por mim no Lapa Café, av. Gomes Freire ao
lado  do  TRT, centro  do Rio.)

quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

Prece dele São Mármaro(Oração proferida em 1940 em frente à Igreja Matriz de São João Marcos-RJ, quando Getúlio Vargas decretou a demolição da cidade, que seria inundada por causa do aumento da represa de Ribeirão das Lages, por ordens da Light. Para Fernando Portugal, e à memória de seu avô, que era médico em São João Marcos e lutou FISICAMENTE com as forças policiais pra que a cidade, patrimônio histórico NACIONAL, não fosse destruída. A história PROVOU que tal decreto presidencial foi INSENSATO. Também à memória de minha mãe, em seu aniversário de falecimento. Requiem aeternam dona eis, Domine, et lux perpetua luceat eis.)

Senhor do mundo, vós Três
me conheceis a caveira: este androloso navio,
embora dele Indigno eu seja,
como de resto imereço o Sopro mágico
que ora me aparta dos nove braços
da Terra, igual Manhã de nós todos  -
latinos gregos hebraicos

vós Três sabeis, meu Deus!
Que essa caveira montou pernas e braços
nas caravanas que subiram o Eufrates,
onde em bazares, e mafuás, jorravam séculos
de cima dos elefantes  -
há muito as amas de leite
dos nhonhôs Ofídicos,  -
e entre estes braços me envergonho, Incluso.

A própria terra inda não se enxugara
das águas de vossa Ira, e já meus olhos eram Semente
na voz do antigo Dragão.

Sou hoje a idade do bronze
multiplicada em Frestões
de novecentas manhattans,
subi os galhos do menezes côrtes
como também o fizeram
meus pais e avós em Babel, antes das guerras
descambonarem cogumelos gigantes sobre a cidade de São João Marcos,
como hoje se Vê.

E foram tantos sinais
de vosso abraço que não Vicejamos,
nem mesmo enxergamos o sol
nos girassóis de Van Gogh , Erê ele mesmo, um dos maiores
da sacra Ordem de Viramundo

hoje em riba e por Tudo
noite se espreguiça elástica
na mambucaba das Horas, as lampadosas do Encanto
não vigem nos terraços do mundo mais nada
além de espinhões gafanhotos rançosos todos
de Abismo, ninguém não vendo_____

que Amigo ainda ressuscitas toda manhã
nos ombros de cada homem
ainda pleno de Infâncias.
Miserere nobis, Domine. 
 (Restos da antiga Igreja Matriz, construída em 1796 e que um dia reuniu preces e casórios na cidade de São João Marcos, localizada na região do Vale do Paraíba, no interior do Rio de Janeiro. Foto: Sofia Moutinho)

quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

Sermão da Sexagésima(Pregado por São Mármaro a uma platéia de peixes-boi no igarapé nº 612 do rio Amazonas. Pra Augusto Guimaraens Cavalcanti. À memória de Ismael Nery)

Nos túmbaros des-Zabelês
que são toda mortícia Canalha a fulustrar
lá desde o senadão Roncôlho,
Brasília mais nas carrancas
caga redondo uns Furuncos____
país que a gente mais Desconhece.

E nossos índios Desvivem
descatembrados de seus quatis e maracas,
almas sendo Vendidas
nos furdunçós da bovespa como ele Renato
antecipara em fagulheiras do Aborto____

e desde sempre quantos leiteiros Matados,*
quantos josés indo pros Quintos
ver Amarildos(nunca manguantes
daquele sono em gaveta do são-jão-batista)

pra não falar nos erês
lá de Quintino e Mesquita
e Corte Oito e Pavuna
e Curicica e Gramacho
e Taquaral, Mato Alto,
sempre entupindo a barca dele Caronte____

são túmbaros des-Zabelês mais rinchavelhos de Assombro,
vindos de lá do planalto num cagalhão Ressumbrário
de ter ajêito
mais nunca de Núncaras.
(Imagens: Cabeça de Cristo, de Ismael Nery, e Enterro, de Portinari)
*Ver poema "Morte do Leiteiro", de Carlos Drummond de Andrade

segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

Poemino(Aos amigos/irmãos Fernando Portugal e Allan Souza)

Esta roseira, em Pé
como um vigia entre as colunas da Noite
manduca* de não sei Onde
odores mágicos:
Esperanças brincam de roda
como se nunca houvessem morrido
dentro dos homens, e tudo Fosse,
de novo o chão
por onde os pássaros  voam

Fosse o leiteiro, assassinado Nunca,*
e Juscelino e Tancredo em nossas retinas
sem Borras de tragédia e lágrima,
fossem os  índios  no Maracanã
de cara  Odara e libertos
dos mutuíns do capeta e 
da  politicagem, se isso a roseira  me desse
eu pediria, Refestança no rosto,
tez-Infância no peito.... mas fica
a dança que É, toré de seiva
iluminada pra calar meu pranto:

esta roseira em Pé
sacode pra longe ogros e demais sustos
dos braços da noite, a paz mais solta,
odorante, entrando firme, Posseira
nas Cinco Salas da gente.

                                 *(Ver poema "Morte do leiteiro", de Carlos Drummond de Andrade)
                                 *Manducar = Trazer(Dicionário Adirônico)









sexta-feira, 16 de janeiro de 2015

Anamorfose(Pra minha irmã Laura Pires. E pra Fatine Oliveira)

                                       "____Debruçado à varanda/que enxergas no horizonte?                                                                              

                                       ____Órfãos, loucos, aleijados/em carros tintos de sangue,                                                                          cegos guiados por cegos.

                                       ____Que enxergas mais no horizonte?

                                       ____Vejo a morte graciosa."(Murilo Mendes)

                                       "Eu preciso destas palavras. Escrita."(Arthur Bispo do Rosário)

                                                                                                                                                                    

 Os hômi Môrto  -  descôche, puto, cambóta  -
nóis Semo. Jacinto
em fuso de Tudo: maravalha e morte,
entrós os Côbros
dos esperantos mais  Sepultura.

Nós somos  o reverbério
de  erês-Infância defuntos,
roncós de trevas
a retinir desde o assassínio  do Alferes:

Eli Eli
sabactâni lemá!! Fulgência  em Nada a  Mara  cor
descalça  há tanto  dos verbos que  no Princípio
andaram léguas  no rosto dos primeiros  Três...

e novamente  a Terra  se encheu  de violência
e num contínuo é mau todo o desejo humano___
à Véra  o rapaz morto  em cós-Dilúvio na sala*
(carpideiras junto de Antélia, mulher de Ló):

nóis semo  os Môrto já falava seu Ínston*
no reverbério  
lá n'Oceânia daqui  di-Mêrmo,
onde nas portas janelas salas pernabandeiras
e lá no Dentros dos hômi
riba e leira: mil novecentos e oitenta e quatro
des-quizombando por Tudo_____


Dies irae, dies illa,
solvet saeclum in favilla.

                                   *(Ver poema "Improviso do rapaz morto", de Mário de Andrade)
                                   *(Ver "1984", de George Orwell)
                                   *Salvador Dalí - Metamorphosis of Narcissus (1937)

terça-feira, 13 de janeiro de 2015

Maxixe de Torna-Bonde(Para a amiga Danielle Ronald de Carvalho)

Quando de-Novo os bondes
subirem os ombros de Santa Teresa
pelos braços do Curvelo antigo
já não haverão maçãs envenenadas,
e os pássaros sorrirão tecendo cantigas
nas linhas suplementares da pauta.

Então os arcos da Lapa já não serão
aquele elefante de muitas pernas seguinte em rumo
Nenhum,  e a prefeitura abrirá concurso
pra  nova leva de pingentes. 

Ali pela cacunda da joaquim silva
fuzarca-ebó Garantida: punks e putas,
sambistas, os ambulantes,
e toda a trupe de pelintras de carteirinha
entoarão kyries e vassuncristos,  pontos de macumba
e letras de capoeira, numa senhora Quizomba
ver maxixe de Torna-Bonde_____


já não haverão maçãs envenenadas
e os pássaros sorrirão tecendo cantigas
nas linhas suplementares da pauta quando,
pelos braços do Curvelo antigo os bondes subirem,
de-Novo, os ombros de Santa Teresa.

P.S.
que não se deixe, porém, que os mortos no grave acidente
de agosto de 2011 MORRAM OUTRA VEZ,
trancados em estátuas de pedra
(me tranquiliza saber   -  por boca de Geraldão Viramundo
e Arthur Bispo do Rosário que os políticos responsáveis
pela tragédia têm lugar especial reservado no inferno).













sábado, 3 de janeiro de 2015

Visões de São Mármaro, nº 11(Pra querida amiga Lucinha, no seu aniversário)

Há tempos a flor do Carlos  -  a que brotou no asfalto
da(então)capital do país às cinco horas da tarde  -
parece ter  implodido, junto dos homens
Mortos em seus ternos de aço. Há tempos um céu de bronze
parece ter espantado os verdadeiros pássaros. Os avejões do Estinfálio
parecem donos do espaço, bravateando arrotos de petróleo.

Já quase não há quem saiba
do paradeiro do Hóspede, há muito órfão das casas,
mais órfão dos Corações. Caronte já quase doido
não sabe mais onde arranje lugar na barca dos mortos
pra tanto erê dos subúrbios, pasto de um mundo Corno
que não tem fome nem sede de Justiça. Os olhos do capital
são sete cabeças dez chifres
e mais os gafanhotos do grande Abismo, zambaluês morticentes
que se esparramam dentro dos homens, que já vão Mortos
desde antes da fundação do Mundo.

Vi grandes anjos
montando águias no céu, junto de fagotes alados
e pianos num corcoveio por Tudo____

mostrando pra toda a carne
seus dedos médios Gigantes. 
(Pintura de Portinari)